José Pedro Martins Coelho
Músico – Professor – Maestro – Ensaiador
________
José Pedro Martins Coelho nasceu na Rua da Bandeira em Viana do Castelo, a 18 de Julho de 1920. Aos oito anos já tocava flautim na Banda de Música do Orfanato e Oficinas de S. José de Viana do Castelo, onde aprendeu música.
Com 17 anos foi indicado para dirigir pela primeira vez aquela Banda, num concurso que decorreu em Lisboa em Maio de 1938 em que tomaram parte todas as Bandas dos Colégios do País, tendo ficado em primeiro lugar, facto que o marcou profundamente e o lançou na carreira musical.
Pelos anos de 1940, foi convidado a colaborar como executante em quase todas as Bandas de Música do Alto Minho, bem como em várias Orquestras Ligeiras e Sacras de Viana do Castelo. Colaborou na fundação do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo e ensaiou toda a parte musical da revista em quadros regionais intitulada “à Moda do Minho”, da autoria do saudoso director daquele Grupo, Dr. Sousa Gomes. Essa revista obteve um assinalável êxito não só em Viana do Castelo como também no Porto, Viseu, Lisboa Évora e Beja.
Em 1949, então com 29 anos de idade, José Pedro assumiu a direcção artística da Banda de Música do Orfanato e Oficinas de S. José, durante seis anos, levando a que esta Filarmónica sob a sua orientação, atingisse um elevado nível artístico, tendo sido considerada pela crítica da época, a melhor Banda de Música do Alto Minho e uma das melhores Bandas de Música do Norte do país.
No entanto, a sua actividade não se limitou à Banda de Música do Orfanato, pois ao mesmo tempo organizou e ensaiou vários espectáculos de teatro, orquestras ligeiras, orfeões e marchas populares.
Durante cerca de cinco anos, entre 1950 e 1955, foi professor de Canto Coral na Escola Industrial e Comercial de Viana do Castelo, onde além das aulas ministradas organizou, com a colaboração de outros professores e alunos, um Orfeão misto composto por mais de cem vozes, tendo efectuados diversos espectáculos.
A sua carreira em Portugal foi interrompida no ano de 1955 com a ida para Angola, onde permaneceu durante 19 anos. Durante esse tempo apesar de se dedicar a outras actividades ainda colaborou em vários certames.
Em 1956, na cidade de Luanda e dispondo apenas de 15 dias, ensaiou com música de sua autoria “A Marcha da Praia do Bispo” constituída por trabalhadores humildes, sendo a maioria transmontanos e madeirenses para o concurso de “Marchas Populares” idênticas às de Lisboa.
Muitos dos bairros concorrentes, contrataram profissionais de Lisboa para organizar as suas marchas, mesmo assim, a sua, obteve o primeiro prémio e no final dirigiu a grande Marcha de Luanda, num total de 100 músicos e 700 vozes.
Em 1960, a convite do Governo de Angola, organizou as Festas Henriquinas onde se fizeram representar Colégios, Escolas, Liceus, Clubes e o próprio Exército.
Em 1963 compõe todas as músicas para uma revista local que teve grande sucesso e que se intitulava “À Sombra da Bananeira”.
Em 1974 regressa definitivamente a Viana do Castelo, tendo encontrado o meio musical completamente adormecido.
Nesse mesmo ano conseguiu reunir os melhores músicos das Bandas do Distrito e deu um concerto nas Festas da Cidade. Desde então procurou formar uma Banda de Música do Castelo, dando concertos com músicos, de várias Bandas, organizando escolas de música, obtendo subsídios, instrumentos e instalações.
Mas é o ano de 1975, que marca decisivamente a vida artística do Maestro José Pedro , pois por incumbência da então Comissão Administrativa da Câmara Municipal, funda a Escola de Música de Viana do Castelo, com o fim de formar músicos para Banda de Música da cidade.
Com todo o seu entusiasmo, saber e espírito de sacrifìcio e modéstia mete mãos à obra e apesar das poucas condições que lhe proporcionavam, apenas uma sala num velho edifício propriedade da Câmara Municipal, situado na Rua do Tourinho, onde quase tudo faltava, consegue que as aulas principiem nascendo, assim a Escola de Música.
No ano seguinte, portanto em 1976, apresenta pela primeira vez ao público a Orquestra de Flautas Bisel da nova Escola de Música. Como corolário. em 1977, surgiu com uma Orquestra Ligeira, formada por alunos com idades entre os oito e os quinze anos.
Em 1979 , para que os alunos pudessem demonstrar a aprendizagem recebida a nível musical e, também, para lhes dar um pouco de cultura teatral, levou a cena na cidade, a revista “Pobre Zé” com música de sua autoria e letra do poeta e autor teatral Orquídio Silva , tendo alcançado grande sucesso nas diversas vezes que subiu à cena.
Quando estávamos em 1981, e já a Escola de Música se dominava oficialmente Centro de Cultura Juvenil, o Maestro José Pedro, com o apoio da Direcção e do Presidente da Câmara Municipal, Lucínio de Araújo, consegue finalmente realizar o seu sonho, que era formar a Banda de Música de Viana do Castelo, constituída por alunos do Centro de Cultura Juvenil e alguns componentes da Banda de Música de Lanhelas, de que foi regente entre os anos de 1974 a 1989.
Foi um êxito assinalável a apresentação da Banda de Música de Viana do Castelo, perante muitas centenas de pessoas que encheram a Praça da Republica, aplaudindo e festejando o acontecimento.
Por esta altura, já o Centro de Cultura Juvenil estava dignamente instalado no nobre edifício brasonado historicamente conhecido por Casa dos Abreu Coutinho, no vetusto
Largo Vasco da Gama, antigo Largo Santo Homem Bom, edifício que a Câmara Municipal adquiriu para o efeito.
A linha de pensamento e orientação que levou a criar a Escola de Música de Viana do Castelo, também induziu o Maestro José Pedro a promover a fundação de outras Escolas congéneres no Distrito, nomeadamente as de Areosa, Anha, Meixedo e Caminha.
Ao atingirmos o ano de 1987, quando José Pedro já tinha levada a cena diversos espectáculos em várias colectividades, assiste-se a novo sucesso, desta vez com a revista « Acorda Viana» com texto de Orquídio Silva e totalmente musicada e ensaiada pelo Maestro, revista esta que foi à cena nove vezes no Teatro de Sá de Miranda, sempre com lotações esgotadas.
No ano seguinte, registou-se a presença da Orquestra Ligeira do Centro de Cultura Juvenil, no II Festival Internacional de Música para Jovens, realizado na cidade de Vila Nova de Gaia, onde estiveram representados, para além de Portugal, 12 outros países, num total de 1500 jovens, tendo os professores e mestres de todas as outras representações, por unanimidade, considerado a Orquestra do Centro de Cultura Juvenil, a melhor orquestra ligeira presente naquele certame internacional.
Como reconhecimento da qualidade e do alto nível da Orquestra Ligeira do Centro de Cultura Juvenil , voltou a ser convidada nos anos de 1989 e 1990, para participar no mesmo Festival.
Saliência também para o êxito obtido pela Orquestra Ligeira no 1º Congresso de Musicologia, em Ponteareas, Espanha e também nas três visitas à cidade de Riom, França, cidade geminada com Viana do Castelo.
Quando das comemorações da Elevação de Viana do Castelo, em 20 de Janeiro de 1991, realizou-se um espectáculo no Teatro de Sé de Miranda, no qual a Orquestra Ligeira fechou o programa com mais um retumbante êxito. O Maestro José Pedro agradeceu os aplausos do público presente. O pano de boca subiu e desceu várias vezes.
E quis o destino que essa noite memorável fosse a última vez que dirigisse publicamente os seus alunos, e como tal depusesse para sempre a batuta.
Efectivamente, passados poucos dias, precisamente em 2 de Fevereiro desse ano de 1991, o infortúnio bateu-lhe à porta. A doença surgiu implacável, inibindo-o definitivamente de continuar a sua maior obra educativa – a Escola de Música – Centro de Cultura Juvenil.
Mas esta obra criada com tanto amor e carinho pelo Maestro estava preparada para, mesmo sem ele, frutificar em novas iniciativas. E a demonstrá-lo eis que a Direcção e os alunos, imanados do mesmo ideal, levaram a cena em Setembro de 1992 a revista “Isto é Viana” que mais não foi tornar realidade um projecto que o Maestro José Pedro já vinha a arquitectar.
Nos últimos anos, também tinha sido o responsável artístico do Festival da Bandas de Música do Alto Minho, dirigindo nesses festivais cerca de 12 Bandas num total de 500 músicos.
Compôs várias músicas para Orquestras , Folclore e Bandas. As suas marchas e rapsódias de motivos populares são tocadas pelas Filarmónicas do país.
Em 1 de Dezembro de 1994, promovida pela Câmara Municipal de Viana do Castelo presidida pelo Dr. Defensor Moura e por um grupo de amigos e admiradores do Maestro, foi-lhe prestada merecida homenagem numa sessão solene realizada no Teatro de Sá de Miranda .
O então Governador Civil, António Roleira Marinho anunciou perante o auditório que o Governo que legitimamente representava fizera publicar no Diário da República um honroso Louvor dedicado ao Maestro José Pedro, em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à cultura e à comunidade.
O presidente da Câmara Municipal, Dr. Defensor Moura, interpretando o sentir dos vianenses, num dignificante gesto de profunda gratidão, em cerimónia simples mas muito comovente, agraciou com mui honra “Medalha de Ouro da Cidade”.
E pouco mais de cinco anos depois desta grandiosa mas também enternecida sessão solene, o ilustre vianense Maestro José Pedro, na madrugada chuvosa de 10 de Outubro de 2000, desaparecia para sempre do nosso convívio.
Nas comemorações dos 40 anos da fundação da Escola de Música, a Câmara Municipal, em homenagem ao relevante trabalho do Maestro deliberou atribuir ao largo onde se encontra sediada a escola de música com o seu nome, passando a Largo Maestro José Pedro.
O então presidente da Câmara Municipal, Eng.º José Maria da Costa, em 23 de Janeiro de 2016 descerrou a placa toponímica “Largo Maestro José Pedro” na presença do povo vianense, numa cerimónia sentida por todos os presentes.
O Maestro José Pedro será sempre recordado como referência central e incontornável da história da escola de Música que ao longo dos anos já teve diversas designações.